O Que Esperar do Mercado de Ações Brasileiro?
A economia global está sempre em movimento, e a política internacional muitas vezes joga um papel crucial nesse cenário. Recentemente, a ameaça de um “tarifaço” de Donald Trump sobre produtos brasileiros gerou uma onda de preocupação no mercado. Muitos investidores se perguntaram: como isso afetará a Bolsa de Valores brasileira? Será que as ações vão desabar? Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, trouxe uma perspectiva bastante otimista, afirmando categoricamente que “não consegue ver espaço para ações brasileiras derreterem”.
Gardimam participou de um bate-papo ao vivo no canal de YouTube do E-Investidor e, durante a conversa, detalhou os motivos para sua confiança. Ele argumenta que, apesar das tensões políticas e das ameaças de tarifas, os fundamentos da economia brasileira permanecem sólidos o suficiente para resistir a esses choques.
Ameaça de Tarifas e Seus Efeitos

A possibilidade de tarifas mais altas sobre produtos brasileiros, especialmente o aço e o alumínio, é, sem dúvida, um fator de risco. Quando um país impõe tarifas sobre as importações, o objetivo é proteger sua indústria doméstica. Isso, no entanto, pode ter um efeito cascata. As empresas brasileiras que exportam esses produtos podem ter sua competitividade reduzida no mercado americano, o que, por sua vez, pode impactar seus lucros e, consequentemente, o preço de suas ações.
No entanto, Gardimam sugere que o impacto real pode ser limitado. Ele destaca que o volume de comércio entre Brasil e Estados Unidos, embora relevante, não é a única, nem a principal, fonte de receita para a maioria das grandes empresas listadas na Bolsa. Muitas delas têm operações diversificadas e mercados consumidores em outras partes do mundo, como a China e a Europa, que podem compensar qualquer perda nos Estados Unidos.
Além disso, o especialista lembra que as ameaças de tarifas são, muitas vezes, parte de uma estratégia de negociação política. O presidente americano pode usar a retórica protecionista para ganhar concessões em outras áreas, sem necessariamente implementar as medidas de forma drástica. Portanto, a simples ameaça não significa que o pior cenário vai se concretizar.
A Força da Economia Interna

Um dos principais argumentos de Gardimam é que a força do mercado interno brasileiro pode compensar as incertezas externas. A economia do Brasil, ele explica, está em um processo de recuperação gradual e consistente. A inflação controlada, a queda das taxas de juros e as reformas estruturais em andamento criam um ambiente favorável para o crescimento.
A taxa Selic, por exemplo, tem sido mantida em patamares baixos, o que estimula o crédito e o consumo. Com juros menores, as empresas conseguem financiar seus projetos de expansão com custos mais baixos, e os consumidores têm mais facilidade para comprar bens e serviços. Isso impulsiona a atividade econômica e, em última análise, melhora os resultados das empresas.
Outro ponto fundamental são as reformas. A reforma da previdência, por exemplo, foi um passo crucial para equilibrar as contas públicas. Além disso, discussões sobre reformas tributárias e administrativas sinalizam um compromisso do governo com a estabilidade fiscal a longo prazo. Essas medidas, embora possam ser impopulares no curto prazo, trazem mais confiança para os investidores e criam um ambiente mais previsível para os negócios.
O Papel dos Investimentos e Setores Chave

Dalton Gardimam também aponta para a diversidade da Bolsa brasileira. Ele destaca que a B3 (a Bolsa de Valores de São Paulo) não é composta apenas por empresas exportadoras. Há uma grande variedade de setores que dependem principalmente do mercado interno, como o varejo, a construção civil, o setor financeiro e as empresas de tecnologia.
O setor financeiro, por exemplo, tem se beneficiado da digitalização e da crescente bancarização da população. Os grandes bancos brasileiros são sólidos e têm se adaptado bem às novas tecnologias e à concorrência das fintechs. Suas ações, portanto, têm um desempenho mais atrelado ao crescimento da economia interna do que a disputas comerciais internacionais.
O varejo, outro setor importante, também está em recuperação. Com a melhora da confiança do consumidor e a queda do desemprego, as vendas têm crescido. Empresas como Magazine Luiza, Via Varejo e Lojas Americanas têm mostrado resultados positivos, impulsionando a Bolsa.
A Perspectiva do Investidor Estrangeiro

Mesmo com as incertezas, o Brasil continua sendo um destino atraente para o investidor estrangeiro. A busca por retornos mais altos em um ambiente de juros baixos em países desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, leva muitos investidores a procurar mercados emergentes. O Brasil, com seus juros ainda relativamente altos e um mercado de capitais robusto, é um candidato forte.
Gardimam explica que o capital estrangeiro pode ser um fator crucial para sustentar a Bolsa brasileira. Enquanto houver interesse em investir no país, o fluxo de dinheiro tende a ser positivo, o que ajuda a manter os preços das ações em patamares elevados. A visão de longo prazo de muitos fundos de investimento internacionais é que o Brasil tem potencial para crescer e se desenvolver, independentemente das oscilações políticas momentâneas.
A Ação do Governo e a Resposta do Mercado

A resposta do governo brasileiro a essas ameaças também é um fator a ser considerado. O Brasil tem uma diplomacia ativa e está sempre em busca de soluções para conflitos comerciais. O diálogo com os Estados Unidos continua, e a possibilidade de um acordo bilateral para evitar as tarifas ainda existe.
O mercado, por sua vez, já precificou, em grande parte, a incerteza gerada pelas ameaças. Isso significa que, se as tarifas forem implementadas de forma mais branda do que o esperado, ou se um acordo for alcançado, o mercado pode até reagir de forma positiva, com uma valorização das ações. Por outro lado, se as tarifas forem mais pesadas, a queda pode ser menor do que muitos temem, justamente porque o mercado já se preparou para o pior.
Oportunidades para o Investidor Pós-Pandemia

A pandemia de COVID-19 trouxe desafios enormes para a economia global, mas também criou oportunidades. A crise gerou uma grande volatilidade nos mercados, derrubando o preço de muitas ações de empresas sólidas. Para o investidor de longo prazo, essa foi uma chance de comprar ativos de qualidade a preços descontados.
Gardimam acredita que, com a recuperação pós-pandemia, muitas dessas empresas tendem a se valorizar novamente. A reabertura gradual da economia, o avanço da vacinação e o retorno à normalidade (ou a uma nova normalidade) podem impulsionar o consumo e os investimentos, gerando um ciclo virtuoso para a Bolsa.
Por que o otimismo de Gardimam faz sentido

Em suma, a visão de Dalton Gardimam se baseia em uma análise profunda dos fundamentos econômicos do Brasil, da diversidade da Bolsa brasileira e do cenário global. Ele argumenta que o país está mais forte e mais resiliente do que muitos pensam, e que as ameaças externas, embora preocupantes, não são suficientes para derrubar a Bolsa.
A inflação controlada, os juros baixos, as reformas em andamento e o crescimento do mercado interno são fatores que criam uma base sólida para as empresas brasileiras. Além disso, o interesse do investidor estrangeiro e a capacidade do governo de negociar e encontrar soluções para os conflitos comerciais reforçam essa perspectiva otimista.
Para o investidor, a mensagem é clara: pânico não é a melhor estratégia. A análise de longo prazo, a diversificação da carteira e a busca por empresas com bons fundamentos são as chaves para ter sucesso no mercado de ações, mesmo em tempos de incerteza. A Bolsa brasileira pode ter suas oscilações, é claro, mas um “derretimento” parece ser um cenário pouco provável, de acordo com o especialista.